A SwimBrasil publicou uma entrevista super interessante com o campeão mundial de natação pelo Revezamento 4x100m Medley do Brasil, o potiguar Marcos Macedo. A entrevista foi publicada ainda em setembro de 2014, antes de o potiguar ter-se tornado campeão mundial de natação, porém vale a pena divulgar um resumo do conteúdo para a comunidade aquática conhecer um pouco mais do nadador potiguar que estuda na UFRN.
Após ter sido convocado para o mundial de Doha 2014, o segundo após Shangai em 2011, o potiguar desafiou a lógica da natação atual dividindo treinamentos com a faculdade de Medicina na UFRN (período integral). Confira o melhor da entrevista feita por Beatriz Nantes diretamente da Swim Brasil:
Beatriz Nantes: Não é só que você faz faculdade: você faz Medicina, e na Federal. Como é conciliar isso com os treinos?
Marcos Macedo: O principal é ter organização. Eu procuro ter horários bem determinados. Faço até tabelas, planilha de excel, com horários de estudo. Basicamente minha rotina é aula todo dia de manhã e de tarde, treino a noite e estudo quando chego em casa. Se falta alguma coisa, procuro completar no final de semana.
Beatriz Nantes: Como fica a questão do descanso?
Marcos Macedo: A parte do descanso é o pior, o que fica mais prejudicado. Quando tem competição eu procuro adiantar os estudos para conseguir ficar uma semana tentando dormir cedo, colocar o sono em dia. Mas realmente o descanso fica comprometido, não tem como dormir mais do que 04 horas por dia. Mas tento compensar no final de semana também.
Beatriz Nantes: E no caso da faculdade, como os professores lidam com as aulas e provas que você perde por causa de competição?
Marcos Macedo: Geralmente é tranqüilo, o pessoal costuma me ajudar bastante. Nunca tive problemas. No início do semestre, eu sempre falo com cada professor e digo quando vou faltar, peço para adiantar o que for preciso.
Beatriz Nantes: Dá tempo de fazer musculação ou você está só nadando?
Marcos Macedo: Faço trabalho fora d’água sim de duas a três vezes por semana, dependendo da época. Saio da aula entre 17h30 e 18h, vou para o treino e saio direto para musculação, onde fico até 21h30. Faço o mesmo treino de musculação do Minas.
Beatriz Nantes: O clube aceita bem o fato de você treinar em Natal ou preferiam que você treinasse em Minas mesmo?
Marcos Macedo: Por eles, eu treinaria lá. Mas eles apoiam, nunca passaram por cima dessa questão. Tanto que as propostas sempre foram de transferir a faculdade para lá, para estudar e treinar. O problema é a questão da distância. Em Natal é tudo perto. Lá é distante. Além disso, a grade é diferente, eu teria que atrasar um período. Não achei viável me mudar para Minas e só conseguir treinar duas vezes por semana com o pessoal por causa dos horários.
Beatriz Nantes: Você treina sozinho em Natal?
Marcos Macedo: Eu tenho uma equipe, a CEI, treinamos na piscina do SESI. A maioria do pessoal é mais novo: juvenil, júnior... É uma equipe pequena.
Beatriz Nantes: Li uma reportagem em que você dizia que já teve propostas para clubes do Sudeste, mas você optou por sempre treinar aÍ, fora a época que foi para os EUA. Por que?
Marcos Macedo: Desde a época do colégio eu me preocupava em como ia ser conciliar os estudos com o treino se fosse para fora. Como os clubes maiores veriam essa minha relação, sempre tive medo. Uma coisa que me ajuda é estar numa cidade pequena. Da minha casa para o hospital são 05 minutos, para a piscina são mais 05. Tudo é perto. Isso facilita. Desde pequeno, eu sabia que meu desejo era fazer Medicina, desde o primeiro ano do colegial, quando começaram os primeiros convites de treinar em outros clubes.
Beatriz Nantes: Desde pequeno você já sabia também que queria nadar? Você já era destaque na base, foi para Mundial Junior, nadou Chico Piscina…
Marcos Macedo: Desde pequeno eu já estava competindo e sempre gostei. Entrei na natação por causa da asma, com 05 anos. Desde mirim, já estava competindo, sabia que queria nadar.
Beatriz Nantes: Teve algum momento da sua vida que você só nadou, sem estudar?
Marcos Macedo: O único momento que fiquei sem estudar foi no final de 2011 e no primeiro semestre de 2012. Fui para os EUA, na Flórida, treinar no Davie com o Coach Alex, focando a seletiva olímpica. Treinei junto com o Felipe Lima. Mas foi a única época.
Beatriz Nantes: E no final você ficou a 07 centésimos do índice para Londres, né? Como foi ficar tão perto?
Marcos Macedo: No momento você fica muito triste, claro. Hoje em dia eu vejo que eu me atrapalhei na verdade. Não fiz o índice porque psicologicamente não estava preparado, eu acho, o nervosismo atrapalhou. No início, foi bem complicado. Talvez se eu tivesse ficado mais distante do índice teria sido mais fácil. Mas hoje eu encaro bem. Sei que tem coisa para melhorar, visando as Olimpíadas de 2016.
Beatriz Nantes: Você estuda durante as competições?
Marcos Macedo: No início da faculdade era mais tranqüilo, dava para ficar uma semana sem pensar nisso. Hoje em dia, está mais complicado, então eu costumo tirar umas 03 horas por dia para estudar. Pelo calendário das competições eu costumo ter um dia sem provas, então consigo passar uma manhã toda estudando no hotel. Mas nada que atrapalhe na competição.
Beatriz Nantes: Para 2012 você trancou a faculdade, acha que deve fazer isso de novo até 2016?
Marcos Macedo: Acho que sim. É provável que sim, mas vou ver quando entrar no internato como vai ficar minha rotina. Por enquanto eu já sei como é, e o período mais pesado já passou. Se for necessário e eu perceber que não vou conseguir treinar tão bem, eu tranco.
Beatriz Nantes: Costuma ser senso comum que nos EUA não existe esse problema de estudar e treinar. Imagino que para uma faculdade como Medicina seja diferente. Você tentou algo por lá?
Marcos Macedo: Quando estava nos EUA até mandei alguns emails, o coach Alex foi atrás e entrou em contato com algumas faculdades. O que a gente viu é que eles dão bolsa para os primeiros 04 anos, que é o que eles chamam de pré Med. Nesses 04 anos eu conseguiria nadar NCAA. Mas lá são 08 anos de faculdade, então depois tem mais 04 anos que eles não costumam dar bolsa de jeito nenhum. Seria muito caro, bem inviável mesmo.
Beatriz Nantes: Li uma reportagem recente em que você comentou que teve uma crise de asma um dia antes do 4×100 livre em Shangai, que foi seu primeiro Mundial. Isso ainda acontece?
Marcos Macedo: Hoje em dia é bem raro, depois que fiz um tratamento, as crises são bem esporádicas. Só uso as bombinhas em caso de necessidade. Em Shangai aconteceu isso, mas não acho que foi o principal determinante para eu não nadar tão bem como o Maria Lenk. Teve um pouco de nervosismo, de chegar no primeiro Mundial. E a convocação foi de última hora, meu planejamento não foi feito para lá. [Marcos Macedo foi convocado em substituição a Nicholas Santos, que teve o resultado do Maria Lenk anulado por ter resultado adverso para furosemida em exame antidoping]. Fui convocado duas semana antes, cheguei 05 dias antes, ainda estava com “jet lag”. Acho que isso foi o principal, mais do que a crise de asma.
Beatriz Nantes: No mesmo ano você pediu desconvocação do PAN de Guadalajara, alegando que não estava treinando adequadamente para a competição, uma atitude que foi bem elogiada na época. Como foi isso?
Marcos Macedo: Foi exatamente isso. Tinha juntado Mundial, Universíade... e eu não estava na convocação inicial do PAN. Tanto que alguns atletas foram cortados um pouco antes, teve uma confusão. Em Shangai eu tive informações de que não ia nadar o Pan, então tirei férias depois do período na China com as duas competições. Quando saiu a convocação, vi que faltava pouco tempo e não teria condição de ir.
Beatriz Nantes: A medalha no 4×100 livre, que você ia nadar, era quase garantida. Mesmo assim você preferiu não ir?
Marcos Macedo: A vontade era estar lá. Mas não achei que seria correto viajar sabendo que não tinha condições de nadar o revezamento. Eu ia nadar só as eliminatórias. Apesar de querer, não tenho nenhum arrependimento. O Nicholas acabou convocado e estava em ótimas condições.
Beatriz Nantes: Falando nisso, e o 100 livre? Continua treinando para essa prova ou o foco é total no 100 borboleta agora?
Marcos Macedo: Hoje o 100 borbo é prioridade. Mas desde o Maria Lenk eu já estou treinando um pouco mais para o 100 livre, tentando fazer mais algumas séries. Eu tenho que ajustar muito minha técnica de crawl, é o que estou tentando trabalhar para ter melhor resultado. Vamos ver se a partir do próximo ano já consigo buscar esse revezamento.
Beatriz Nantes: Sua rotina é incomum para muitos nadadores e também acaba sendo um exemplo para quem acha que não tem como estudar e treinar no Brasil. Qual você diria que é seu principal diferencial?
Marcos Macedo: O principal é organizar o tempo. Procuro não perder tempo durante a semana com outras coisas, ficando na internet, vendo facebook, essas coisas. Já que não tenho tempo, chego e utilizo o tempo da melhor forma possível. Nas horas que é para estar na aula, concentro na aula, no treino a mesma coisa. É tudo uma questão de organização.
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