Driblar os horários pouco convencionais nos Jogos Olímpicos do Rio, que começam em 05 de agosto, será um dos maiores desafios para a natação brasileira. As finais do esporte começarão sempre às 22h (horário de Brasília) e, em geral, se estendem até meia-noite. No dia 10 de agosto, vai até 0h25. São horários bem diferentes dos habituais nas grandes competições internacionais.
Nos Jogos de Londres 2012, por exemplo, as decisões de medalha ocorriam a partir das 19h30, no horário local. Perante o cenário adverso, o COB (Comitê Olímpico do Brasil) trabalha há mais de três anos com especialistas da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) para garantir descanso e recuperação a esses atletas. De acordo com Marco Túlio de Mello professor da UFMG e consultor do COB sobre sono e fadiga, são dois os principais desafios.
Primeiro, como fazer atletas que geralmente acordam e treinam cedo terem bom rendimento tarde da noite. Algumas medidas também voltadas a atletas de outras modalidades já são tomadas para superar esse problema inicial. Uma delas é expor os brasileiros a banhos de luz nos dias que antecedem a Olimpíada e nos horários tardios em que cairão na piscina.
Os atletas serão expostos a um dispositivo que irradia alta luminosidade por 20 ou 30 minutos, que conduz a um aumento da temperatura cerebral em um momento no qual ela estaria em declínio. O recurso eleva o potencial de um bom desempenho.
“Vamos arrastar a curva da temperatura corporal dos atletas para que possam ter uma expressão física (no horário das competições) sem tanto prejuízo. Há prejuízo. A questão é como conseguimos minimizá-lo”, avalia Mello, que trabalhou com o time de futebol do São Paulo na viagem ao Japão que resultou no título mundial em 2005.
O segundo desafio da natação, segundo o professor, é como fazer com que os atletas durmam bem já na madrugada depois de submetidos a tanto esforço físico e à liberação de adrenalina. É isso o que mais preocupa atletas como Jessica Cavalheiro, 24, integrante do revezamento 4x200m Livre. “A maior dificuldade é desligar o corpo após ter nadado uma final olímpica.”
Um das ações para atenuar esse efeito será a crioterapia, que implica estimular a reabilitação e o relaxamento por meio do uso de baixas temperaturas, seja gelo ou spray. O resfriamento funciona como um indutor do sono.
“Imagine que, após a premiação, haverá exame antidoping, entrevista, ida à Vila dos Atletas e jantar. Serão 3h, 4h da madrugada... e o atleta terá de estar de pé às 8h. É preciso que durma imediatamente”, afirma Mello.
A aplicação das duas técnicas de adaptação devem começar cerca de dez dias antes do início dos Jogos. O professor enfatiza que os trabalhos serão individualizados. “Até lá, vamos conhecer o atleta, ver se é matutino, vespertino, quanto gosta de dormir. A partir daí, planejar uma adaptação”, contou. “Nossa prioridade é a saúde do atleta.”
De acordo com ele, estudos apontam que uma noite ruim de sono pode gerar queda de 30% a 40% no desempenho. Especificamente para a natação, outras medidas devem ser adotadas para reduzir o impacto do horário. A seleção ocupará os andares mais altos e, por consequência, menos barulhentos do prédio na Vila dos Atletas.
Ainda para combater o barulho, devem ser colocadas cortiças nas paredes dos quartos e distribuídos protetores auriculares aos atletas. O plano é que cada nadador ocupe um quarto, cuja janela será vedada para impedir a entrada de luz.
“Será difícil para todos, mas teremos de nos adaptar”, diz o carioca Matheus Santana, 20, que conquistou índice olímpico nos 100 m livre. O velocista planeja fazer treinos à noite e na hora do almoço para analisar a reação do seu corpo. Atualmente, seus treinamentos vão de 7h às 11h e de 15h30 às 17h.
Treinador-chefe da seleção feminina de natação e da equipe do Sesi, Fernando Vanzella lembra que no treinamento em altitude que conduz neste início de ano em Sierra Nevada, na Espanha, estão sendo implementados treinos em horários inusuais.
“Mexer no biorritmo das atletas não é bom, mas quero que elas treinem de 11h às 13h e 19h às 21h (em Sierra), horários próximos dos da Olimpíada.”
Por que tão tarde?
Os horários da natação foram estabelecidos a pedido da rede de TV dos EUA NBC, detentora dos direitos de transmissão dos Jogos. Popular no país, a natação estará no horário nobre (fim de noite), como acontece com o futebol na TV brasileira.
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