Alguns de nós começamos a nadar logo cedo, ainda quando criança. Era um encanto movimentar-se na água juntamente com o desejo de sentir-se independente do meio natural (estar sobre a terra). Isso fez surgir o impulso pela descoberta diante do ambiente aquático. Esse impulso que gerava curiosidade aos poucos foi ganhando corpo e acabou levando-nos às primeiras competições. Quem não sonhava conquistar aquela medalha?
Foto: D.P. |
Trata-se de uma fase importante no desenvolvimento humano em que tais impulsos determinavam a formação de valores na personalidade de qualquer nadador, a partir das aulas de natação e que se projetariam nas mais diversas dimensões da vida. Embora, a palavra ambição tenha sido pouco explorada ou confundida com ganância, é justamente na fase da infância e adolescência em que o caráter está sendo formado, que a ambição pode melhor determinar sentimentos de sonhos e conquistas.
Um ser humano que não consegue sonhar e trabalhar por sua conquista não é ambicioso e consequentemente, vive vegetando ou parasitando. A pesar de ambição ser confundida com ganância para desqualificar os sonhos ou desejos de alguém, ser chamado de ambicioso poderia indicar um elogio, invés de defeito. O adjetivo é equivocadamente associado a comportamentos egoístas e antiéticos, embora a raiz da palavra venha do latim “ambire”, que significa “mover-se livremente”, ou seja, criar seu próprio caminho na vida.
Pessoas ambiciosas são aquelas que tomam iniciativa, se arriscam, treinam exaustivamente, sonham, movem o mundo. Mas, então, por que a carga negativa? Segundo Felipe Pena, “É muito mais fácil desqualificar o sonho e o desejo do outro do que você ser ambicioso a ponto de correr atrás do seu”.
O ambicioso constrói, ao passo que o ganancioso destrói. A ambição pertence às qualidades do homem; a ganância, a seus defeitos. Nesse sentido, filósofos indicam que o homem insatisfeito é aquele que tem a capacidade de provocar mudanças ao seu redor, sendo a insatisfação uma condição da evolução humana. Alguém satisfeito com sua conquista faz apenas aquilo que lhe é dado e, muitas vezes, não se lança ao novo, não acredita que pode mais.
Uma forma de encarar a insatisfação humana é nos questionarmos: Qual a distância existente entre a ambição e a ganância? Estar insatisfeito é buscar o diferente, buscar a mudança daquilo que não concordamos ou que poderia ser melhor. Daí a ambição ser considerada um sentimento positivo que favorece o crescimento e a superação em todas as dimensões de nossa vida.
Considerando a adolescência, é sadio imaginar que nessa fase da vida queremos mais, queremos fazer diferente ou mudar e melhorar. Porém, um jovem apático ou que não tem perspectivas será um futuro problema para a sociedade.
E a ganância? Em oposição à ambição, a ganância determina sentimentos egoístas e mesquinhos. É o apropriar-se de algo e viver no comodismo. No campo moral, a ganância é um vício que tanto denigre a si mesmo quanto às pessoas ao redor, dificulta que o grupo se desenvolva e chega a desprezar as partes mais frágeis do grupo.
"A ganância é o último recurso do fracasso"
Oscar Wilde
Tanto o ganancioso quanto o ambicioso podem demonstrar insatisfação. A diferença está na forma como cada um canaliza e trabalha com seus desejos. O ambicioso almeja chegar lá, projeta sonhos para se realizar e compartilha suas conquistas, enquanto o ganancioso quer apropriar-se do primeiro lugar para pegar a parte maior e não ter que repartir.
Psicologicamente, todos e cada um de nós podemos tender à ambição ou à ganância. Daí existir a necessidade de buscar o equilíbrio necessário diante de situações que envolvem tais sentimentos.
Dentro da piscina, seja em treinamentos ou competições, de uma forma ou de outra, o nadador se submeterá a situações que exigirão dele sua insatisfação seja pela ambição ou pela ganância. Enquanto a ambição leva o nadador a aperfeiçoar sua técnica ou sua resistência nas partes mais frágeis de uma prova, a ganância irá ignorar as orientações do técnico ou a capacidade de se superar diante dos desafios numa competição.
Uma medalha ou um troféu poderão até esconder o processo da conquista, mas cada um é suficientemente capaz de se autoanalisar diante de sua insatisfação no dia a dia, seja por via da ganância, seja pela ambição.
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