Um amigo havia feito uma questão bem pertinente sobre o que é ser Máster numa enquete do Facebook. Ao contrário do que você veria numa reportagem de TV, a idéia de Máster ou de “nadador máster” vai além de idosos que buscariam benefícios pra saúde. Considere colocar-se no lugar de quem já entrou na 3ª idade e como você seria visto após a arbitragem anunciar sua desclassificação numa prova.
Foto: ANMRN |
Tecnicamente e por regra, o “máster” começa a partir dos 25 anos. Trata-se de uma denominação especial de uma categoria que engloba outras subcategorias separadas em grupos etários a cada 05 anos, conforme oficialização da FINA, após o movimento máster ter-se iniciado no Brasil, na década de 1980 que resultou na fundação da ABMN – Associação Brasileira Máster de Natação. Do inglês, “máster” significa: mestre, aquele que domina determinada área. Literalmente, o “máster” indicaria que com o passar dos anos e a aquisição de experiências vividas em piscina ou no mar, aquele atleta dominaria e seria exemplo maior de quem ama a natação, como quem aprecia manter-se com boa saúde e bem-estar.
Ver um garoto ser desclassificado é bem diferente de ver um máster de 67 anos na mesma situação. De um lado, o garoto ainda tem muito o que aprender; de outro, quem está na 3ª idade nem sempre teve sua vida inteira nas piscinas com todas as regras no bolso. Então, como seria estar na arquibancada e escutar a arbitragem anunciar a desclassificação de um máster de 67 anos?
Oficialmente, o máster é uma categoria como as demais categorias e sendo assim, está sujeita às regras oficiais igualmente, com poucas diferenças como entre as provas de nado borboleta (e derivados do medley individual e revezamentos) a partir da categoria 60+, a formação de equipes de revezamentos, os índices técnicos etc... Com exceção de pouquíssimas diferenças entre as regras oficiais, para a arbitragem declarar uma desclassificação, pressupõem-se que aquele atleta teve tempo suficiente para seu técnico adverti-lo quanto às regras a cumprir antes da competição.
A popularidade crescente nos últimos anos não pode prescindir de que uma coisa seria a prática da natação como atividade física salutar seja em qualquer idade; outra coisa é submeter-se às regras durante uma competição. Ver alguém de 67 anos de idade sendo desclassificado depende de como você e sua família julgam ser uma competição. Numa competição um prêmio é oferecido primeiro a quem cumpriu as regras, depois em relação à classificação final. Se um atleta não cumprir às regras, não importa a idade nem sua classificação, a arbitragem não terá como premiá-lo. A denominação “máster” não teria maior evidência além dos benefícios que a natação promove, se numa competição todos os atletas não se submetessem às regras de forma honesta.
Voltando àquela questão do meu amigo, a desclassificação poderia ser até relativa e estaria diretamente relacionada tanto ao desconhecimento do atleta (independente de idade), quanto de seu técnico. O técnico daquele máster seria o maior responsável pela sua desclassificação, tendo em vista que na infância é muito fácil um garoto decorar o que não tem que fazer numa prova; já na 3ª idade, seria preciso o técnico estar repetindo várias vezes para um máster de 67 anos conseguir intuir e registrar o que não deve fazer numa prova.
Na maioria das vezes, somos levados por motivos emotivos a considerar um absurdo a arbitragem desclassificar um máster de 67 anos de idade. O fato é que a oportunidade lhe dada também foi dada aos demais colegas nas raias vizinhas que aceitaram submeter-se às regras para nadar aquela prova. Existem histórias em que é preciso olhar para o outro lado de como ela teria sido contada de outra forma. Por mais que pudesse surtir revolta quanto àquela desclassificação de um idoso tão querido, os outros nadadores da mesma categoria dele cumpriram à regra, e alguém subiu ao pódio não só por ser o mais forte ou o mais ágil, mas porque teve humildade em aceitar a decisão da arbitragem desde o sinal de largada.
Em abril de 2016, estive presente e vi com meus olhos uma senhora de 65 anos de idade em Palhoça/SC ser desclassificada no 100m Peito durante o brasileiro máster de natação. Ela era bastante conhecida e causou comoção quando a arbitragem anunciou sua desclassificação. Eu estava ali no banco de controle esperando minha série quando vi as últimas séries do feminino entrar. Por mais que tivesse formação para atuar como árbitro e um modesto conhecimento de regras, eu também tinha achado um absurdo e cheguei a pensar que teria sido por outro motivo que não apenas porque ela balançou durante a largada (a regra determina que todos os competidores devem estar paralisados no momento da largada).
Porém, algo surpreenderia muito mais do que aquela comoção de uma desclassificação. Aquela senhora subiu as escadas da piscina com ajuda de alguém da família, levantou a cabeça com um sorriso no rosto e disse: “Deixa pra próxima”. Essa lição foi muito maior que a desclassificação dela. Se você ama este esporte chamado natação, não seria uma desclassificação que impediria um máster de dar mais uma lição de vida na piscina.
No máster sabemos que independente do tempo ou do recorde, cada atleta tem uma história de vida pra contar no passar dos anos. Isto é ser máster: quanto mais os anos passam, mais você tem o que ensinar para os mais novos dentro da piscina. Principalmente, aquela humildade que faz um atleta brilhar no esporte.
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