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Acertando seu relógio biológico

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Você já deve ter ouvido falar que atletas de alto rendimento precisam manter uma rotina de vida muito policiada e regrada. Isso vai desde o controle da hora certa para treinamentos, para a alimentação, até o tempo necessário para se dormir. Tudo isso tem relação direta com o que chamamos de relógio biológico. Podemos chamá-lo também de ciclo circadiano, termo originado do latim “circa diem”, que significa cerca de um dia ou 24 horas.




Para entendermos melhor esse tema, precisamos lembrar que todos nós fazemos parte de processos da natureza e vivemos em relação direta com eles. Nessa interação, estímulos externos como a luz, temperatura e pressão atmosférica, por exemplo, influenciam diretamente no organismo e são as peças chaves desse processo.

Através da luz, nosso corpo entende se é dia ou noite, logo, se é hora de dormir ou ficar acordado. A luz é captada pelos olhos que sinalizam ao hipotálamo no cérebro para que uma série de atividades hormonais e cerebrais sejam controladas para manter a atividade do metabolismo e o estado mental.

Em outras palavras, nosso relógio biológico precisa saber a hora certa para tocar seu alarme para que várias funções fisiológicas aconteçam de forma a manter seu organismo funcionando em harmonia. Isso acontece através da regulação da temperatura do corpo, da pressão arterial, do sono ou estado de alerta, da digestão, do consumo energético como também pela ação direta da liberação de hormônios.

Já é comprovado que o relógio biológico pode impactar na performance atlética tanto para o bem quanto para o mal. Um grande exemplo é o de que melhores desempenhos físicos são alcançados no período da tarde, uma vez que força, agilidade e flexibilidade estão no pico de eficiência. A primeira explicação tem relação com a temperatura corpórea, o marcador mais importante do ciclo circadiano. Ela tende a ser ligeiramente mais baixa pela manhã, e vai aumentado ao longo do dia até às 18 horas, quando atinge um patamar ideal para o trabalho das fibras musculares. Isso também facilita a utilização de carboidrato como fonte de energia ao invés de gordura, o que é mais eficiente para os músculos no exercício físico. Ainda, neste horário, o poder explosivo para provas rápidas ou anaeróbicas são maiores, bem como a capacidade de movimento das articulações.

Algumas das outras razões pelas quais os cientistas não observaram resultados atléticos tão otimizados pela manhã incluem o fato do organismo ainda não estar em seu estado de alerta ideal e à baixa disponibilidade de uma fonte de energia rápida (glicogênio) devido ao jejum. Mas isso ainda pode variar em alguns indivíduos.

O hormônio cortisol, que age no metabolismo e pode consumir massa muscular, e a testosterona, que promove aumento de massa muscular, são os outros personagens nessa história. Os dois apresentam picos de produção pela manhã, e o equilíbrio entre eles é o que determina uma melhor performance pela tarde, uma vez que a testosterona tende a diminuir menos ao longo do dia do que o cortisol e produzir efeitos mais pronunciados no músculo como aumento da força. Isso reforça a indicação de exercícios aeróbicos ou mais prolongados para o período da tarde onde o atleta pode perder menos massa muscular do que pela manhã.




O tema do relógio biológico ganhou mais visibilidade quando cientistas da área ganharam o prêmio Nobel pela descoberta de seus mecanismos moleculares, neste ano. Eles conseguiram descobrir moléculas fundamentais envolvidas no processo, nas quais foram chamadas de proteínas Clock, produzidas a partir dos genes de mesmo nome. O ponto interessante é que essas proteínas formam o arcabouço molecular de controle do ritmo circadiano, em um desenvolvido sistema de comunicação interna do organismo baseado em informações genéticas.

Olhando de forma prática, quando atletas precisam viajar para outro continente onde a diferença de horas para o seu país de origem é grande, a chance de haver a dessincronização do relógio biológico é muito grande. A primeira fase desse desequilíbrio pode ser acompanhada de sintomas como fadiga, dor de cabeça, náuseas, concentração diminuída e insônia. Conforme o organismo vai se adaptando ao novo fuso horário, esses sintomas vão desaparecendo. Atletas mais jovens tem menos problemas com esses sintomas. É sabido também que o desequilíbrio constante do relógio biológico pode favorecer sérios problemas de saúde como diabetes, obesidade e doenças cardíacas.

Assim, muitos precisam de alguns dias para fazer a ressincronização do organismo. Na olimpíada de 2008 em Pequim, Michael Phelps chegou a fazer uma adaptação especial uma vez que a diferença de fuso horário era muito grande. Não só viajou com muita antecedência como também teve que mudar seus horários de treinamento para adaptar o corpo. As finais das provas eram todas de noite, nos EUA, e pela manhã, na China. Assim, todo aquele raciocínio mostrado anteriormente foi feito ao contrário. O treino forte era feito no fim da tarde, nos EUA, simulando os horários das provas que valiam medalhas. O planejamento deu tão certo que ele ganhou oito medalhas de ouro. Um fenômeno!

Fonte: Luiz Frota in: SporTV



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